terça-feira, 25 de março de 2008

O nascimento de um novo deus


Cortam-se os lábios, outrora de amor,
escorre indecisamente desespero.
Velhos sábios, numa interminável luta,
buscam a fórmula por que espero.

O corpo, envolto no seu húmido manto de calor,
oculta a sua ferocidade,
antigo devorador
de velhos sentimentos, a eternidade
das desilusões.
Os dedos erguem-se esguios
nos membros hirtos,
recolhem-se em contrações
rejeitadas em gritos
de anúncio... Aterrador
trovão de perturbações
em entardecer de fértil horror.

O odor aquoso da transpiração
destrói a paz do pequeno corpo,
que se deixa possuir na lentidão.
Sob os joelhos cansados
cede à loucura dos membros vorázes
que, rasgando os ovários,
invadindo o ventre,
emergem de tão belo Hádes
em convulsões lúbricas,
semelhantes a um Tártaro infernal:
o nascimento de um novo deus.


By Sebas_el_loco

Thanks, está mesmo muito bonito ;)

VIDA


Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!

Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.


José Gomes Ferreira, in PoesiaII

sábado, 22 de março de 2008

sexta-feira, 21 de março de 2008

A poeira


No abismo escuro e vil
da negra nuvem deste mundo,
andamos sonâmbulos e sem nada vermos.
No buraco fundo e triste
cairemos um a um,
sem perdão, sem piedade
sem excepção.
De que valem as palavras ocas e em vão
proferidas por ti e por mim
se tudo já quase é poeira?
De que valem as acções incertas e incorrectas
feitas por ti e por mim
se já tudo está destinado?
Andamos redundando o mundo
com frases fúteis, frases a mais...
Andamos a infligir tortura,
sofrimento, sem ter dó.
E por aí andamos, às voltas...
com pena de nós próprios,
com pena de tudo ser mundo.


Su

Buda estava reunido com os seus discípulos numa certa manhã, quando um homem
se aproximou.
-Deus existe?- perguntou.
-Existe- respondeu Buda.
Depois do almoço, aproximou-se outro homem.
-Deus existe?- quis saber.
-Não, não existe- disse Buda.
Ao final da tarde, um terceiro homem fez a mesma pergunta:
-Deus existe?
-Tu terás de decidir- respondeu Buda.
-Mestre, mas que absurdo! - disse um dos seus discípulos. - Como é que o senhor pode dar respostas diferentes para a mesma pergunta?
-Porque são pessoas diferentes - respondeu o Iluminado. - E cada uma aproximar-se-áde Deus à sua maneira: através da certeza, da negação e da dúvida.



Embora a guerra se comemore por estes dias e, no fundo dos fundos, na minha opinião, não tenha a ver apenas com a diferença em termos de religião,(€€€), achei interessante esta história que realmente nos mostra que sendo de terras diferentes, com culturas diferentes, até temos algumas coisas semelhantes, somos todos humanos...parecidos fisicamente, até psicologicamente e todos filhos Daquele que nos criou, que é bem capaz de ser la misma entidade...
Bem haja a todos.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Divagações


Pulas como a mola que parte
Rodopias como a bola
Nos pés descalços de um
Alegre puto de rua
Transitas em movimento contínuo
No solar da minha alma
E brincas como pequena criança
Nos sonhos que me embalam
Sorris como uma pequena traquina
Acolhes o meu mundo no teu jardim
Foste os pássaros que voaram
Um migrar equatorial
Certas vezes penso, serás a tal?
Lembro as vezes que magoaram.
Não deixo porém de contemplar
O teu maravilhoso pular
O sorriso que escondes no olho
Da tua bela entranha ocular...

Very nice, by Mr B (não arranjas nada, arranjo eu hehe)

Ágætis Byrjun


Bjartar Vonir Rætast
Er Við Göngum Bæinn
Brosum Og Hlæjum Glaðir
Vinátta Og Þreyta Mætast
Höldum Upp Á Daginn
Og Fögnum Tveggja Ára Bið
Fjarlægur Draumur Fæðist
Borðum Og Drekkum Saddir
Og Borgum Fyrir Okkur
Með Því Sem Við Eigum Í Dag
Setjumst Niður Spenntir
Hlustum Á Sjálfa Okkur Slá
Í takt við tónlistina
Það Virðist Enginn Hlusta
Þetta Er Allt Öðruvísi
Við Lifðum Í Öðrum Heimi
Þar Sem Vorum Aldrei Ósýnileg
Nokkrum Dögum Síðar
Við Tölum Saman Á Ný
En Hljóðið Var Ekki Gott
Við Vorum Sammála Um Það
Sammála Um Flesta Hluti
Við Munum Gera Betur Næst
Þetta Er Ágætis Byrjun


Bright Hopes Come True
As We Walk Downtown
Smiling And Laughing
As Friendship And Exhaustion Collide
We Celebrate
A Two Year Wait
A Distant Dream Is Born
We Eat And Drink Ourselves Full
And Pay Up
With All We Have For The Day
We Sit Down Excited
Listen To Ourselves Play The Music
No One Seems To Listen
This Is Completely Different
We Lived In Another World
Where We Were Never Invisible
A Few Days Later
We Speak Again
But It Didn't Sound Good
We Were All In Agreement
In Agreement About Most Things
We’ll Do Better Next Time
This Is An Alright Start

segunda-feira, 17 de março de 2008

Sunset

É o que fazes a mim,
brilhar no mais brilhante sorriso,
perder-me no infinito tempo
e mais nada há.
É que fazes a mim,
o mundo não é mais o mesmo,
há esperança em tudo.
Tudo é bom
o que fazes a mim...
Maior é a a tua luz,
maior o teu mundo que outro meus.
Fecha os olhos,
estou ao teu lado
e cada coisa que escrevo sobre ti
não chegaria para te igualar.
Mas isto é para ti
pelo que fazes a mim.

Su

Adeus


Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.



by Eugénio de Andrade

Múm, Green Grass Of Tunnel


Bonito o vídeo,até tem um farol e tudo! (eu tenho panca por faróis) lol mas está bonito sim.

Sigur Ros - Svefn-G-Englar


Não tenho palavras...só sentindo mesmo. Com elfos à mistura e tudo.
Sem dúvida um dos melhores albuns de sempre, na minha opinião.

...


A partir de hoje vou lutar todos os dias, por um instante que seja, para que o meu coração não fique assim...

sábado, 15 de março de 2008

À tarde


Hoje tens o sol e a claridade é imensa…
Mas quando chegar o Inverno quem vai iluminar-te?
Hoje tens os amigos e a alegria é demais…
Mas quando chegar a solidão quem vai ouvir-te?
Hoje tens a praia e o calor é muito…
Mas quando o frio chegar quem vai aquecer-te?
Hoje tens a companhia e o riso é abundante…
Mas quando chorares quem te dará a mão?
Hoje sentes o fogo e o calor é intenso…
Mas quando tudo for fumo escuro e cinza quem te guiará?
Hoje o céu está claro e corre uma brisa…
Mas quando a tempestade chuvosa vier quem te acolherá?
Hoje tudo são rosas e amor
Amanhã espinhos e dor
A vida corre, a manhã passa por ti,
Mas já era de tarde quando te vi.

Su

sexta-feira, 14 de março de 2008

Porta aberta


Deixa a porta aberta
Que eu entrarei para te ver
Deixa o banco vazio
Para eu me sentar
E deixa a janela aberta
Para juntos mirarmos o mar
E as constelações
Sempre inseparáveis.
No meio das árvores frias,
A meio da semana,
A caminho da praia à noite.
Às vezes paramos no meio delas
(Eu não vou esquecer).
Embora discutíssemos
Dizemo-lo sempre com cuidado redobrado,
Precioso,
De quem parece feito de cristal...
No limiar da existência
E para além dela
Eu contigo caminharei
Lado a lado e
Os nossos passos sempre rimarão.
Su

Neblina


Por dentro dos braços do vento
Revolto,
Cinza.
O farol impõe-se no horizonte
No mar agitado, intocável.
E quantos o viram...
Quantos o veêm e verão...
A neblina te esconde,
O tempo te engole
E o mar te responde
Revolto,
Cinza.
Na espuma das ondas
Tudo te desaparece
E o grito da gaivota mais distante
No meu ouvido se mantém,
Inalterável
Até à hora da minha dormida
Torpe,
Dormente, cinzenta e revolta.
Su