
O livro só sai em Abril mas já está a causar polémica: ‘Fernando Pessoa: uma quase autobiografia’, que o brasileiro José Paulo Cavalcanti escreveu ao longo de oito anos de trabalho e cinco horas de escrita diária – com várias viagens a Lisboa por ano – retrata o poeta como um homem “sem imaginação”, que escreveu apenas sobre pessoas e locais que existiam, e um homossexual latente, que visitava os bordéis mas tinha pouco entusiasmo pelo sexo oposto.
Ao longo de quase 700 páginas – em que o brasileiro diz ter procurado escrever o livro que gostaria de ler – Cavalcanti usou centenas de citações do poeta, sempre entre aspas, e muitos depoimentos de pessoas que conviveram com o poeta. Alguns deles poderão surpreender o leitor.Como, por exemplo, a revelação, supostamente feita por António Botto – amigo do poeta e homossexual assumido (apesar de ser casado) – de que Fernando Pessoa teria um pénis muito pequeno, o que lhe causava alguns embaraços.
Segundo o próprio Cavalcanti, muito pouco no livro é da sua lavra, embora neste livro lance a teoria de que Fernando Pessoa teria, afinal, muito mais heterónimos do que vulgarmente se julga.
Polémica, também, é a sua afirmação de que o autor de ‘A Tabacaria’ tinha falta de imaginação.
“Eu lia e pesquisava. Sempre que encontrava num poema qualquer referência, ia procurar para saber se aquele lugar ou aquela pessoa existam de facto. E existiam mesmo. Acabei por chegar à conclusão de que Fernando Pessoa foi o escritor com menos imaginação com quem tive contacto em toda a minha vida. Ele viveu tudo o que escreveu. Não inventou nada.”
O livro de José Paulo Cavalcanti, membro da Academia Pernambucana de Letras, será apresentado no âmbito da exposição ‘Fernando Pessoa: Plural como o Universo’, que já esteve patente em São Paulo e que chegou este fim de semana ao Rio de Janeiro, mais propriamente no Centro Cultural Correios, onde pode ser visitada até 22 de Maio.
in Correio da Manhã
É realmente de lamentar que este escritor esteja a lançar esta polémica para obter protagonismo para vender o seu livro.
O mais grave aqui não é a especulação sobre a possível homossexualidade do poeta.
Pessoa tem dos mais belos poemas que li, não percebo a afirmação de Calvacanti sobre a sua falta de imaginação.
Todos os poetas escrevem com base em algo da sua própria experiência interior e exterior.