sábado, 20 de março de 2010

"Ir à terra...ou turismo rural"


Trata-se de um desporto nacional que antes se chamava "ir à terra".

A diferença é que se fores à tua terra, vais de borla, e se fizeres
turismo rural vais a uma terra que não é a tua e pagas uma pipa de massa.

Para fazer turismo rural não serve qualquer terra. Tem de ser uma Terra
"com encanto".

E o que é uma terra "com encanto"? Obviamente, é uma terra que está num
guia de terras "com encanto". Está-se mesmo a ver. A estas terras
chega-se normalmente por uma estrada municipal "com encanto", que é uma
estrada com tantos buracos e tantas curvas que quando chegas à terra
estás mortinho para sair do carro.

E quando entras no café tentas integrar-te com os vizinhos.

- Bom dia, compadres! O que é que é típico daqui?

E o gajo do café pensa: "Aqui o típico é que venham os artolas da cidade
ao fim-de-semana gastar duzentos contos".

A seguir, ficas instalado numa casa rural ou "casa com encanto", que é
uma casa decorada com muitos vasinhos e réstias de alhos penduradas do
tecto, que não tem televisão, nem rádio, nem microondas. Em
contrapartida, tem uns ****** de uns mosquitos que à noite fazem mais
barulho que uma Famel Zundapp.

Depois apercebes-te que os da terra vivem numas casas que não têm
encanto nenhum, mas têm jacuzzi, parabólica, Internet e vídeo-porteiro.

A tua casa não tem vídeo-porteiro, mas tem uma chave que pesa meio quilo.

Outra vantagem de fazer turismo rural é que podes escolher entre uma
casa vazia ou ir viver com os donos da casa. Fantástico!!! Vais de
férias e, além da tua, ainda tens de aguentar uma família postiça. Que à
noite queres ver o filme, eles os documentários e tu perguntas-te:

"Quem é que manda mais? Eu, que paguei 600 euros ou este senhor que vive
aqui?" Ganha ele, que tem um cacete.

Ainda por cima, dizem-te que tens "a possibilidade de te integrares Nos
trabalhos do campo". O que quer dizer que te acordam às cinco da manhã
para ordenhar uma vaca. Não te lixa?

É como ires à bomba da gasolina e teres de pôr tu a gasolina, ou como
ires ao McDonalds e teres de arrumar o tabuleiro. Ou seja, o normal.

Então, levantas-te às cinco para ordenhar as vacas. E digo eu: porque
raio é que é preciso ordenhar as vacas tão cedo? O leite está lá! Não se
podem ordenhar depois do pequeno-almoço? Eu acho que isto é só para
chatear, porque a vaca deve ficar muita contente por a acordarem às
cinco da manhã para um estranho lhe vir mexer nas mamas. A vaca olha
para ti como se dissesse: "Ouve lá, pá! Se queres leite vai ao
frigorífico e abre um pacote!" É que é mesmo só para chatear!!!

Mas o "encanto" definitivo são "as actividades ao ar livre". Como quando
te põem a fazer caminhada, que é aquilo a que normalmente se chama
andar, e consiste, exactamente, em por um pé em frente ao outro até não
poderes mais, enquanto os da terra vão num jipe com ar condicionado. Mas
tu feliz da vida. vais pelo campo atordoado.

Tornas-te bucólico e tudo te parece impressionante: vês uma vaca e
dizes: "Ummmmm, que cheirinho a campo". A campo não, a bosta!!! Mas isso
sim, é o bosta "com encanto". E tudo, seja o que for, te sabe
maravilhosamente: na mesa pespegam-te dois ovos estrelados com chouriço
e tu na cidade não comes estes ovos, nem estes chouriços. E perguntas ao
empregado?

- Este chouriço é da matança?

- Quase, porque o gajo do camião da Izidoro ia morrendo ali na curva.

De repente, ouves umas badaladas e dizes:

- Ah! Que paz! Não há nada como o som de um sino!...

E o gajo do café diz-te:

- É gravado. Não vê o altifalante no campanário?

Nesse momento, perguntas-te se os ruídos das galinhas e dos grilos não
estarão num CD: "RuralMix2006", "Os 101 Maiores Êxitos Campestres".

A única coisa de que tens a certeza é que os ****** dos mosquitos são
verdadeiros. Pareces um Ferrero Rocher com varicela!!!

Eu acho que, de segunda a sexta, as pessoas destas terras vivem como
toda a gente, mas ao fim-de-semana espalham pela estrada uns tipos
mascarados de pastores e quando vêem que se aproxima um carro, avisam os
da terra pelo telemóvel: "hei, vêm aí os do turismo rural!" E mudam o
cartaz de "Videoclube" pelo de "Tasca", soltam uns cães pelas ruas e
sentam à entrada na terra dois avôzinhos a fazer sapatos, que depois tu
compras uns e saem-te mais caros que uns Nike.

Enfim, acho que uma montagem tão grande como esta não pode ser obra de
pessoas isoladas. Tenho a certeza de que estão implicadas as autoridades.

Imagino o Presidente da Câmara:

- "Queridos conterrâneos: este Verão, para aumentar o turismo, vamos
importar mais mosquitos do Amazonas, que no ano passado tiveram imenso
êxito. E quero ver toda a gente com boina, nada de bonés de pala da
Marlboro. E façam o favor de pintar o espaço entre as sobrancelhas, que
assim não parecem da província! E as avós: nada de topless na ribeira,
que espantam os mosquitos! E só mais uma coisa: este ano não é preciso
ninguém fazer de maluquinho da terra, que com os que vêm de fora já chega!"

(não sei quem escreveu) mas...
não podia discordar mais embora o texto esteja deveras engraçado! O "ir à terra" é lindo, bonito, respira-se melhor, come-se bem e o pessoal é muito mais simpático e acolhedor.
Por isso, não deixem o interior morrer e pratiquem mais esse desporto nacional do "ir à terra". Hehe